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CORPOS LÉSBICOS

Antes, ser visível. Depois, representada. A premissa para garantir os direitos à comunidade lésbica é muito anterior às reivindicações. Primeiro, elas precisam atravessar o muro da invisibilização que a sociedade as mantém.  

Foi no início da década de 70 que o movimento lésbico surgiu no Brasil, com o objetivo de garantir seu espaço e visibilidade na sociedade. Desde então, as lésbicas se organizam e confrontam não somente na frente LGBT como também no movimento feminista. Por muito tempo a militância LGBT focou nos homens gays e apagou as outras letras e vivências, o que não foi diferente com as lésbicas. Em 2007, durante a Conferência Nacional GLBT, foi decidida a mudança na sigla, uma tentativa de trazer o L para frente e tirá-lo da invisibilidade. Já dentro do movimento feminista, as lésbicas eram constantemente masculinizadas e tratadas como “anormais e “aberrações”.

 

Um dos maiores desafios da comunidade atualmente é uma visibilidade sólida. Falar em visibilidade lésbica é reivindicar por voz e luta por direitos, já que estes ainda lhes são negados e, na presença do atual governo, o mínimo de conquistas da comunidade LGBT também estão sendo retiradas. Uma luta que já faz 50 anos.

“Na atual conjuntura em que nosso país se encontra, onde a retirada de direitos é uma constante diária nas nossas vidas, e o discurso de ódio também vem sendo legitimado cada vez mais, a sociedade vem sendo educada para desrespeitar, para intolerar. Nosso grande desafio é nos manter vivas”, relata Kátia Cunha, integrante da mandata Juntas Codeputadas, da Casa Legislativa de Pernambuco. Como mulher lésbica, Kátia reitera  a falta de visibilidade desse grupo e as consequências sofridas pela ausência de atenção e ações acerca das mulheres lésbicas: “quando a gente é invisível as políticas demoram a chegar. Além de, sendo invisível, não conseguimos ter a precisão dos dados da violência. É difícil nos manter fora das estatísticas do mapa de violência que a comunidade lésbica sofre”.

 

Até pouco tempo, não existiam dados quanto à violência contra a mulher lésbica, mas, em 2018, por meio de pesquisa criada pelo Núcleo de Inclusão Social (NIS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi lançado o Dossiê do Lesbocídio. O termo foi criado para advertir a negligência e o preconceito da sociedade brasileira para com a condição lésbica, em seus diversos âmbitos, e as consequências, muitas irremediáveis, advindas do preconceito em especial a morte das lésbicas por motivações de preconceito contra elas, ou seja, a lesbofobia (Trecho do Dossiê do Lesbocídio).

 

O relatório aponta que ao menos 126 lésbicas foram assassinadas no país entre 2014 e 2017; só em 2017, foram 54 casos — um aumento de mais de 237% em relação a 2014. E 2017 foi também o ano em que foi registrado o maior número de casos de suicídio (19). Além disso: 71% dos crimes aconteceram em espaços públicos, 43% dos assassinos eram pessoas desconhecidas para as vítimas e 83% das mortes foram causadas por homens.

 

Esse levantamento foi feito a partir de dados coletados em redes sociais, sites e jornais e outros veículos de mídia. Por isso, o grupo de pesquisa ressaltou que esses números ainda são distantes da realidade, já que não existem dados ou informações oficiais voltadas ao lesbocídio. Órgãos como o Ipea e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública fazem o levantamento da violência LGBT, mas estatísticas oficiais e estudos padronizados que mostram a extensão da lesbofobia não existem. Como consequência indireta, número de mortes evitáveis decorrentes de crimes de ódio lesbocida no Brasil está crescendo aceleradamente a cada ano, segundo o Dossiê. 

Houve avanços e algumas visibilidades no que diz respeito a discussão sobre o tema e intensificação dos movimentos, no entanto, em 2019, ainda é inexistente um programa de políticas públicas para mulheres lésbicas, que garanta seus direitos perante a sociedade. No caso do Brasil, país com índices alarmantes de violência contra a mulher e contra a população LGBT, a constante invisibilização da mulher lésbica ocorre violentando e, muitas vezes, matando. Ou apenas negligenciando direitos básicos, como acesso à saúde de qualidade ou segurança para ir e vir sem medo.

De acordo com Íris de Fátima, uma das fundadoras do Grupo Articulação e Movimento Homossexual do Recife e Região Metropolitana (AMHOR) e integrante da Coordenadoria LGBT de Pernambuco, as reivindicações feitas pelas mulheres lésbicas acerca de seus direitos e das políticas públicas já está tramitando. O que falta agora é a ação do Estado. “Tudo que queremos já está  documentado. Falta o principal: recursos financeiros,  leis que previnam a violência no Estado. O espaço para diálogo não é espaço por espaço, falta diálogo com os partidos políticos e falta respeito das pessoas umas com as outras, para que  valorizem essas mulheres”, conta a servidora pública.

“Como técnica da coordenadoria LGBT do Estado, tento colocar em prática muito do que foi construído e o que está se construindo pelas mulheres lésbicas. Rodas de conversa,  diálogo com a população, seminários, conferências, reuniões entre legislativo e o executivo com a coordenação LGBT. Vamos atrás. Muitas pessoas, assim como eu se constroem de desafios e não desistem, como destaca a música de Legião Urbana: “quando o sol bater na janela do seu quarto, deixa entrar”. É isso que fazemos”.
Íris de Fátima, integrante da Coordenadoria LGBT de Pernambuco 

Em Pernambuco, a existência de grupos pelos direitos das mulheres lésbicas se firmam na década de 70 e foram se institucionalizando a partir dos anos 90, sendo o grupo AME, o pioneiro dessa movimentação. Além disso, permanece ativo o desenvolvimento de ações que discutem a situação da mulher lésbica no Estado, como o Encontro de Mulheres Lésbicas Encarceradas da Colônia Penal Bom Pastor, promovido pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, Juventude, Políticas sobre Drogas e Direitos Humanos e da Gerência da Livre Orientação Sexual, e o 1º Seminário de Lésbicas e Bissexuais da Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE), desenvolvido pela mandata das Juntas Codeputadas. Kátia Cunha, em depoimento, relata a importância de promover ações desse tipo para a população lésbica, que se sente representada pela mandata. Confira:

Representatividade Lésbica na Alepe
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As diversas tentativas de silenciamento da população lésbica se expressam, muitas vezes, nas mais variadas esferas, entre elas na representação midiática dessas mulheres. Quando se debate sobre visibilidade, a resposta é simples: sem ela não há o resto. Se a pessoa não existe, ela não é representada, não tem experiências, não tem lugar de fala. Consequentemente, não se comenta sobre essa pessoa, não se faz políticas para tal, não é pensada a saúde para ela, não é cobrado respeito, não há direitos e nem condições de exigi-los. Por isso, abrir espaços para que mulheres lésbicas tenham suas vozes ouvidas e suas questões debatidas é abrir espaço para a diversidade da sociedade e suas respectivas representatividades.

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REPRESENTATIVIDADE

Visibilidade: atributo ou condição do que é visível. Em relação à visibilidade lésbica, significa ver mulheres lésbicas em locais e meios de grande alcance. Ou seja, é expor a existência dessas mulheres. E a representatividade? Representatividade lésbica é expor os inúmeros tipos dessas mulheres. Para se ver representada, primeiro é preciso ver. Não há representatividade sem visibilidade. É preciso ter em mente, antes de tudo, a existência de uma enorme diversidade entre as mulheres que se relacionam com mulheres no mundo.

 

Abaixo, conheça algumas representatividades do movimento lésbico brasileiro e suas realizações e contribuições para a causa. Elas estão sendo vistas para que outras mulheres lésbicas se sintam representadas e também sintam-se vistas e ouvidas.

ROSELY ROTH

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Foi uma ativista brasileira, considerada uma das pioneiras da história do Movimento Homossexual Brasileiro. Uma figura que se tornou símbolo da resistência lésbica e liberdade de expressão.

MARIELLE FRANCO

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Criada da Maré (RJ). Mulher, negra, lésbica, mãe, socialista e militante de direitos humanos. Eleita a 5ª vereadora mais votada no Rio em 2016. Brutalmente assassinada a tiros em 14 de março de 2018.

KÁTIA CUNHA

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Professora da rede estadual de ensino, hoje codeputada, formada em educação física pela UPE. Militante feminista, lésbica e participante ativa da luta sindical. Integrante da mandata coletiva Juntas, do Legislativo de Pernambuco.

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